O dia surge frio, de um céu cinza perolado que há muito não se via, com ele vem toda a melancolia de viver entre dois pilares do qual, só poderei deixar um erguido.
Sempre tive em mente que nossa
vida é baseada em escolhas, algumas simples e outras tão complexas que podem
mudar o nosso rumo para sempre. Algumas dessas decisões quando tomamos,
fechamos com ela uma porta de um caminho que não poderemos sequer olhar através
da fechadura. Mas não adianta tentar burlar essa lei da natureza, sempre
teremos que optar e arcar, esse é um ciclo que nunca cessa, mas o que fazer
quando as escolhas são peças fundamentais na sua vida? Quem seria capaz de
trocar um amor por um sonho? Ou um sonho por um amor? Eis o ponto... O relógio
marca 9 horas e 27 minutos, no rádio Roberto Carlos pincela meu dilema. Céus!
Eu sou uma música do Roberto Carlos! Não quero mais ouvir! Não quero mais ter
que pensar! Desligo...
Em meu iPod sou abraçado por
Agradecimento*, que ironia do destino... Não estou a salvo em meu refúgio, a
vida conspira, empurra, me faz engolir a realidade que tarda, mas sei que
chegará como o Sol que um dia morrerá e levará os planetas, cometas,
asteroides, pessoas, sentimentos, sonhos, terra, água, ar, lembranças... Com
seu calor insaciável. É irremediável. Minha adorável Quimera que vive no
paraíso azul, onde o pudor, o julgamento e o mundo dá lugar à arte, aos
limites, a melodia, ao conforto dos seus braços, ao fogo que de seus lábios
acariciam minha pele, ao descontentamento descontente... E posso perdê-la...
Perder a chave da entrada do Éden Anil e ir para o inferno cinzento, onde o
tempo me consumirá até as entranhas, em que a solidão será minha fiel
companheira, mas onde eu aprenderei a ser o que nasci para ser, onde serei
lapidado, onde minha pele será marcada, rasgada, arrancada e poderei me tornar também
a Quimera que me alimenta.
Não pensarei mais... Não
consigo... Não imagino... Me desligo.
*Agradecimento música de Bárbara Eugênia.